Lilo & Stitch, quando a dor se veste de fantasia!

Se você nunca reparou, o universo de Lilo & Stitch vai muito além de alienígenas fofinhos e explosões cósmicas. Por trás dos gritos da Lilo e das trapalhadas do Stitch, existe uma dor silenciosa que quase ninguém fala: o luto infantil.

Lilo é uma criança que perdeu os pais recentemente, e mesmo que o filme não diga isso com todas as letras, está ali: no jeito como ela se isola das outras crianças, no descontrole emocional, nos surtos de tristeza e raiva aparentemente sem motivo, na culpa de fazer a irmã sofrer, no apego a rituais estranhos (tipo dar um sanduíche de atum para o peixe Pudge porque ele “controla o tempo”). Isso não é só “esquisitice”. Isso é sobrevivência emocional.

Diferente dos adultos, que expressam o luto em forma de lágrimas, falas ou recolhimento, crianças demonstram sua dor por meio de símbolos, brincadeiras e comportamentos inesperados. Lilo parece “estranha”, mas está tentando desesperadamente manter algum controle sobre o caos que virou sua vida. O luto infantil pode incluir fantasias mágicas, comportamentos regressivos, isolamento social e até agressividade, tudo isso aparece na forma como Lilo interage com o mundo. Ela alimenta o Pudge como se pudesse, assim, evitar novos desastres. Isso é mais do que fofo, é uma tentativa inconsciente de impedir que o mundo a machuque de novo.

Lilo vive um pedido de socorro, que acaba sendo lido como desobediência, rebeldia ou maluquice. Quando ela conhece Stitch ela não quer só um cachorro, ela quer um ser que também esteja quebrado, deslocado, fora do padrão. Ela encontra isso em Stitch, um experimento alienígena destrutivo que, no fundo, também só quer um lugar pra chamar de lar. Juntos, eles formam uma dupla que grita: “a gente não se encaixa e tudo bem”.

O luto em crianças é profundamente ligado à sua necessidade de pertencimento. Lilo não quer ser a criança “normal” ela quer ser amada do jeito que é, com seu caos e suas feridas. O que a gente vê no filme é um reflexo do que muitos jovens enfrentam no silêncio do próprio quarto: o medo de perder, o medo de não ser compreendido, e o desejo absurdo de ser aceito mesmo que esteja “quebrado”.

Lilo é o retrato da criança (e por que não dizer, do jovem adulto?) que está tentando seguir em frente sem um manual de instruções. O luto dela não tem fim dramático nem consolo mágico. O que ela tem é Stitch, Nani e uma nova definição de família: ’ohana, que significa “família” em havaiano, e que como ela mesma diz “significa que ninguém é deixado para trás. Ou esquecido.”

E talvez, pra quem está vivendo um luto, uma crise, uma fase de “não me encaixo em lugar nenhum”… isso já seja alguma coisa.

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