O amor como experiência de presença: quando a profundidade importa mais que a duração

Há alguns dias, assisti ao filme Meu Ano em Oxford, na Netflix, e ele me deixou com uma reflexão persistente: o que define o amor verdadeiro? A relação que se constrói entre os personagens foge do modelo idealizado do “felizes para sempre”. O que vemos é um encontro breve, mas profundo, marcado pela honestidade, pela presença e por uma intensidade que não se baseia na duração, mas na entrega.

Muitas vezes, o que fundamenta as nossas relações não é a falta de sentimento, mas a pressa de encaixá-las em algum futuro idealizado ou em um espaço social que sentimos que deve ser preenchido. Ficamos ocupados tentando prever se aquilo vai durar, se vai funcionar, se corresponde às expectativas do que aprendemos a chamar de amor “válido”. Mas talvez a pergunta mais importante seja: esse amor é real?

Quando retiramos o futuro da equação, o que sobra é o agora. E o agora, quando vivido com presença e intenção, pode ser muito mais sincero do que qualquer plano distante.

Na psicologia, especialmente nas abordagens fenomenológica e humanista, como a Gestalt-terapia, existe um conceito central chamado aqui e agora. Ele propõe que a experiência presente é o lugar mais autêntico e transformador que podemos habitar. Em vez de fixar nossa atenção no que já passou ou no que ainda não veio, somos convidados a nos conectar com o que sentimos, pensamos e vivemos neste exato momento, sem distrações ou fugas.

No filme, não há promessas. Há encontros. Há escuta. Há afeto que não precisa ser adiado. E talvez seja justamente essa consciência da finitude que dá profundidade à experiência. Porque, quando o tempo é limitado, cada gesto conta, e o vínculo não depende da duração para ser legítimo.

Essa ideia desafia uma lógica muito comum: a de que o amor só vale se durar. Mas, quando aprendemos a viver a relação no presente, sem tentar forçar garantias futuras, ela pode se tornar mais genuína e mais transformadora também.

Além disso, alguns vínculos nos atravessam de um jeito que vai além do afeto. Eles funcionam como espelhos, mostrando partes adormecidas, esquecidas ou negligenciadas da nossa própria identidade. Não é incomum, após uma conexão significativa, começarmos a nos questionar se estamos realmente vivendo a vida que faz sentido para nós.

Foi exatamente o que aconteceu com a protagonista do filme. Ao se permitir viver aquele amor, ela também se permitiu repensar-se. Questionou os rumos da sua carreira, da sua rotina, da forma como vinha existindo. Ele não a “mudou”, mas por meio daquela relação, ela ganhou uma visão mais clara e honesta de quem realmente era. Em vez de pensar o amor como completude, talvez possamos começar a enxergá-lo como um ponto de contato com quem somos e com quem podemos ser.

Vivemos em uma cultura que valoriza o controle: ter tudo definido, saber onde cada coisa vai dar, manter a estabilidade. Mas a realidade não é assim. E os encontros humanos, muito menos.

Conexões profundas têm o potencial de desestabilizar certezas. Elas nos convidam a sair do automático. Isso pode ser desconfortável, claro, mas também pode ser exatamente o que precisamos para evoluir.

Não estou dizendo que toda relação precise nos transformar, mas acredito que as que nos tocam de verdade quase sempre nos deslocam. Porque nos obrigam a entrar em contato com o que realmente importa.

Em um mundo que insiste em medir a validade do amor pela sua durabilidade, talvez a experiência de presença seja um antídoto. Estar inteiro, ainda que por pouco tempo, pode ser mais valioso do que permanecer pela metade durante anos. E algumas histórias, mesmo breves, nos acompanham para sempre, não porque ficaram, mas porque nos despertaram.

E você, como tem vivido suas relações? Já parou para pensar se está aproveitando o presente ou apenas projetando um futuro idealizado? Compartilhe sua experiência nos comentários vamos conversar sobre o amor que transforma aqui e agora.

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